Wednesday, June 06, 2007

"Há provavelmente duas atitudes básicas que dão orgiem aos dois tipos fundamentais de ficcção: ou se escreve de brincadeira, para entretenimento próprio e dos leitores, para passar e fazer passar o tempo, para distrair ou procurar alguns momentos de evasão agradável; ou se escreve para investigar a condição humana, empresa que não serve de passatempo nem é brincadeira nem é agradável.
Com efeito, é quase normal, para não dizer que é inevitável, a sensação de desagrado que produz a leitura de um romance dessa natureza. E isso se deve não somente ao fato de que a exploração das profundezas do coração humano é angustiante, como também porque, propondo-se a isso ou não, esse tipo de ficção nos produz um desasossego que tampouco nos dá prazer. Maurice Nadeau afirma que um romance que deixe tal como era o escritor e o leitor é um romance inútil. É verdade. Quando terminamos de ler O Processo não somos a mesma pessoa de antes (e com certeza muito menos Kafka depois de escrevê-lo)"

O Escritor e Seus Fantasmas, Ernesto Sábato

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